Organizar o TEDxJundiaí é sempre um mergulho em histórias que nos atravessam. Mas confesso: ver Andreas Kisser ocupar nosso tapetinho vermelho teve um peso especial. Não apenas por ele ser um ícone do heavy metal mundial, mas pela coragem de compartilhar uma dimensão íntima – a experiência da perda.
O tema poderia soar pesado demais para uma noite de celebração de ideias. Não à toa, a narrativa condutora do evento se iniciou com uma meditação e respiração consciente – a respiração como essência, e seu fim, a morte, como parte da vida. Essa foi a história “contada” nas entrelinhas da narrativa do evento, que trouxe ao palco amigos queridos e temas fascinantes, como comunicação, escuta e educação – nossas ações no mundo que dão sentido à vida, esta que só se completa, em essência, com o seu fim. Mas sobre essas falas falarei em outro momento.
Assim, ao falar da morte, Andreas falava da vida. Ao narrar a jornada ao lado de Patrícia, sua esposa, ele nos lembrava que dignidade não se mede pela quantidade de dias vividos, mas pela qualidade de cada instante – sobretudo quando o tempo se torna finito.
Hoje, Andreas busca difundir a discussão sobre os cuidados paliativos e abrir espaço para o debate sobre dignidade no fim da vida, abordando questões delicadas como luto, testamento vital, eutanásia e suicídio assistido – sempre com a convicção de que a autonomia é parte inalienável da dignidade humana.
Sua fala ganhou ainda mais peso pela coincidência histórica: na mesma semana, o Uruguai aprovava a Lei da Morte Digna, tornando-se o primeiro país da América Latina a legalizar a eutanásia por meio de legislação (enquanto Colômbia e Equador já haviam descriminalizado a prática em alguns casos). A comparação é inevitável: se nossos vizinhos já reconhecem juridicamente o direito de escolher como partir, aqui no Brasil ainda lutamos para oferecer alívio básico do sofrimento a quem enfrenta a terminalidade da vida.
Foi impossível não pensar em Heidegger: somos seres cuja existência é sempre atravessada pela consciência da morte. Para ele, encarar a finitude não é paralisar-se diante do medo, mas abrir-se à possibilidade de viver de modo mais autêntico, mais verdadeiro, mais essencial. Talvez essa seja a lição maior da fala de Andreas: assumir a morte não como interrupção, mas como horizonte que dá sentido à vida.
Saí da palestra com a sensação de que esse foi um dos momentos mais essenciais do TEDxJundiaí. Porque essência, afinal, não é um conceito distante: é aquilo que pulsa quando nos confrontamos com o que realmente importa. E Andreas nos mostrou que a morte, no fim das contas, é que dá sentido à vida.