Por que cancelar o Carnaval para “economizar dinheiro” é pura demagogia?

Todo ano, surge o mesmo debate: algumas pessoas defendem que o Carnaval não deveria ser financiado com dinheiro público, porque esse dinheiro poderia ser melhor investido pelo município em saúde e educação. Parece um argumento lógico, mas, na realidade, essa justificativa não faz sentido. Vamos entender por quê.

1. O dinheiro não pode ser simplesmente transferido para outras áreas

Muitas pessoas acreditam que cancelar o Carnaval significa pegar o dinheiro e gastar em hospitais ou escolas. Mas não funciona assim. O orçamento público, incluindo o municipal, é dividido em áreas específicas (como cultura, turismo, saúde, educação) e não pode ser realocado de qualquer jeito. Para mudar isso, seria necessário um processo burocrático complexo, passando pela Câmara de Vereadores e seguindo regras rígidas.

Além disso, a saúde e a educação são financiadas principalmente por verbas estaduais e federais. O dinheiro arrecadado pelo município não seria suficiente para resolver esses problemas, e cortar o Carnaval não impactaria em nada esses setores de forma significativa.

2. O Carnaval não é gasto – é investimento

Muita gente vê o Carnaval como um simples evento festivo, mas ele gera dinheiro para o município. Estudos mostram que, para cada R$1 investido em cultura, entre R$1,59 e R$6,51 voltam para a economia. Como isso acontece?

  • Turistas vêm para a cidade e gastam com hotéis, restaurantes, transporte e comércio.
  • Pequenos comerciantes lucram mais (bares, lojas de fantasia, lanchonetes etc.).
  • Gera empregos temporários para artistas como musicistas, artesãs e costureiras, além de segurança e equipe de eventos.

Ou seja, o dinheiro não desaparece. Ele circula na cidade, aumentando a arrecadação de impostos e ajudando comerciantes e trabalhadores locais.

Além disso, sabemos que o orçamento municipal pode passar por ajustes ao longo do ano. Se há necessidade de cortes, por que sempre se fala em cortar justamente o Carnaval, enquanto outros eventos seguem acontecendo sem questionamentos? O debate deveria ser feito com transparência: se há necessidade de reduzir investimentos, quais são os critérios para decidir o que fica e o que sai?

Outro ponto importante é que o Carnaval não precisa ser financiado apenas com dinheiro do município. Existem diversas formas de captar recursos estaduais e federais para eventos culturais (que, como já vimos, fazem “girar a economia”), reduzindo a pressão sobre os cofres locais. Muitos municípios que cancelam o Carnaval podem estar simplesmente deixando de buscar esses recursos, o que reforça a ideia de que o problema não é só financeiro, mas também uma questão de prioridade e visão sobre o papel da cultura na economia.

3. Segurança pública: organizar é melhor do que reprimir depois

Outro argumento usado para cancelar o Carnaval é a falta de contingente policial para garantir a segurança da população. Mas será que o problema é o evento em si ou a falta de planejamento para lidar com ele?

O Carnaval acontece com ou sem apoio do poder público. Se há uma manifestação popular espontânea, é melhor que ela seja organizada, planejada e controlada do que simplesmente ignorada. Quando um evento é estruturado, a segurança pode ser coordenada entre os organizadores, comerciantes e forças de segurança para evitar tumultos.

Por outro lado, se o poder público não assume a responsabilidade de organizar, os foliões acabam ocupando as ruas sem estrutura, e qualquer problema que surgir será atribuído ao evento em si, quando na verdade a questão real foi a falta de planejamento. Proibir o Carnaval não impede as pessoas de saírem às ruas – apenas torna tudo mais desorganizado e perigoso.

4. O preconceito contra o Carnaval

Se o argumento econômico e o de segurança não fazem sentido, então por que tanta gente defende o cancelamento? Muitas vezes, por preconceito. Algumas pessoas veem o Carnaval apenas como “bagunça”, ignorando sua importância cultural e econômica.

E olha, eu mesmo não sou o maior fã do Carnaval! Não sou do tipo que espera o ano todo pra colocar fantasia e sair atrás de um trio elétrico (ou algo do tipo). Mas uma coisa é questão de gosto pessoal – outra coisa é ignorar fatos e dados concretos.

O Carnaval é um patrimônio brasileiro e faz parte da identidade de muitas cidades. Ele gera empregos, movimenta o turismo e dá visibilidade para artistas locais. Quando um município cancela a festa, não está economizando dinheiro – está perdendo uma grande oportunidade de crescimento econômico.

Ou seja…

O debate sobre o Carnaval precisa ser mais honesto. Cancelar a festa não resolve nenhum problema sério da cidade – pelo contrário, pode prejudicar a economia, a cultura local e até a segurança pública. O argumento de “gastar com saúde e educação” ou de “não ter policiamento suficiente” são apenas pretextos para esconder a falta de compreensão (ou o preconceito) sobre o verdadeiro impacto da cultura na cidade.

Se queremos um debate sério sobre gastos públicos, ele precisa ser baseado em fatos – e não em demagogia.

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